sexta-feira, 30 de maio de 2008

Belmôndega (Oo)

"Certa vez conheci uma garota
Que parecia ter mais manias que eu
Com todas as minhas compulsões.

Não tardou muito até que essa marota
Surrupiasse um pedaço meu
E me inchesse de desmedidas sensações.

Ela é assim:

Meio claustrofóbica,
Como uma almômdega enmacarrolada.
Um pouco desesperada
Como um nó que liga um fio com nada.

Às vezes fica um pouco nervosa.
Mas nada muito apoplético.
Tudo que ela faz me torna patético,
Lerdo, adimirando-a com seus óoculos rosa.

Vendo num mundo todo retrô,
Coisas novas e amareladas.
Fico até espantado quando vejo um dodô
E ela me diz cores meio torradas.

Cheia de traquinices e manias.
Assim é essa moleca,
Que cheia de gracejos e meninices
Me enche com tantas loucas e ricas alegrias.

Me afino com ela
Ela se afina comigo
Para nessa harmônia
Seguirmos felizes o nosso castigo.

De amar um ao outro.
E do outro,
O mundo."



Uma pausa da história que seguia, só pra postar algo que a muito tempo não escrevo. Sinto um pouco a falta de todos, mas assim sendo, sigo, sento, escrevo e estudo.

Pra todos um beijo, um queijo, e um percevejo sertanejo num lampejo.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

E lá estava a casa. Casa vinte e oito na Rua dos Alferes. Era uma casa aparentemente simples, sempre muito visitada, cheia de gente saindo e entrando a toda hora e minuto. Desde menino passava por ali e me perguntava o que era que tanto as pessoas faziam por ali. Minha mãe e minha vó sempre me diziam, "Isso não é pro teu bico, moleque! Vai jogar bola com os teus amigos que é melhor..." ou algo assim, pra distanciar meus pensamentos, como um cachorro hipnotizado por um pedaço carne a sacudir pelas ventas e a voar rua a fora. E lá ia eu distraído a quicar pelas casas em busca de meus companheiros.

Mas, como a curiosidade é algo intrísceco a alma humana, toda vez que passava por aquela casa, ficava atordoado. Como que por um perfume, que me seduzisse, me empurrasse para suas proximidades e ficasse a adimirar, apenas por alguns mimutos, até achar outra coisa pra poder direcionar minhas idéias.

Lá, morava um sujeito amagrelado, de uns cinquenta anos, negro e alto, de barba amarelada, devido ao caximbo e ao charuto que fumava na janela. Olhos brancos, como nuvens em dias de claros raiares de sol, que vigiavam as ruas na espera de seus "pacientes". Seu Jerônimo era o nome do sujeito. Tinha um urubu guardado numa gaiola que ficava perto da janela que gritava sempre que podia em alto e bom som quando passava alguém que lhe era conhecido o cheiro, ou talvez a aparência.

Pois então, hoje, depois de burro velho, tomei coragem de adentrar naquela casa que pra mim sempre fora tão estranha pra mim. Mas o que me segurava agora? Nada. Apenas minhas pernas, e minha vontade que me prendiam frente aquela porta velha de madeira, com dobradiças já enferujadas pelo tempo. Madeira cheirosa, velha, daquelas que pareci ter acabado de sair da marcenaria do seu Ulisses, também das vizinhanças.

Ao ficar contemplando aquela maravilha do tempo, repentinamente, como que num tiro de carabina pronta pra me acertar, Seu Jerônimo me abre a porta e fitar-me a meio palmo das fuças.

domingo, 25 de maio de 2008

Meu nome é Wilson, tenho 32 anos e estou apaixonado por uma rã. Sim, uma rã. Não sei se conseguiria explicar o motivo exato, mas quem já se apaixonou num primeiro olhar sabe exatamente o que eu estou falando.

Num momento de insanidade fui buscar conselhos de amigos e parentes. Todos, repito, todos riram do meu amor. Sem exceção. Não houve um amigo que pudesse achar compreensão nas minhas palavras. Achei isso uma tamanha falta de respeito e desde então evito falar com pessoas que não me respeitam.

Afinal, o respeito é a base fundamental pra todo e qualquer tipo de relacionemento, seja ele com seus pais, amigos, servidores, ou animais. Lembro-me de um dia em que ditei um voto de silêncio de minha parte. Ao chegar do trabalho, meu pai, antes de abrir a porta de meu quarto, viu um bilhete no chão com o seguinte dizer: VOTO DE SILÊNCIO, NÃO PERTURBE. Como ele já estava um tanto irritado com algumas traquinices do trabalho, aquilo foi o estopim para algumas flaneladas catárticas nas minhas pernas finas de criança iludida. Pois bem, esse meu ato foi por ele considerado falta de respeito. E desde então aprendi a respeitar. Pelo menos algumas coisas. Acho eu.

Depois disso, pensei muito. Pensei durante uns 3 meses sobre o que fazer com aquela rã do riacho, que lá estava, sempre a minha espera ao entardecer. Analisei bastante a idéia e sem hesitar mais, fui a um macumbeiro que ficava a alagumas quadras de minha casa.

Nunca acreditei muito no poder da religião, mas o amor nos remete a fazer as mais absurdas loucuras. Estava realmente certo de que aquilo iria me ajudar. Pobre menino iludido. Sempre acreditando na ilusão de que tudo pode ser feito se houver fé. Essa coisa poderosa que existe dentro de nós e que poucos realmente a possuem. Digo isso porque tenho e tive muitas tias beatas. E de todas elas, nenhuma parecia detentora de uma fé verdadeira. Acreditavam como todas as pessoas acreditam no que a religião, independente de qual for, lhes catequizava. Mas a fé vinda da alma, é coisa rara.

sábado, 17 de maio de 2008

Bel a noite.


"Passam dias.
Noites frias.
E nada de você.

Sinto sua presença
A cada segundo,
Respirando ao meu peito
Aliviada ao reencontro.

Sempre a esperar,
Fico aguardando
O tal maravilhoso dia.

Passam dias e mais dias.
Noites e mais noites.
E tudo que passa
São pessoas e mais pessoas.

Nos transportes públicos.
Nas vias públicas.
Pessoas e mais pessoas.

Mesmo com tanto pra pensar
Tanto pra fazer, cada passo
Cada olhar, cada pessoa

Só me lembra você.
Uma figura única de obsessão.
Um simbionte mental que usurpa de minha mente
E que faz ela funcionar ao nosso bel prazer.

Que com aquele olhar relaxado
Sem pensar em mais nada
Se não naquele agora.

Um agora que já foi.
Que pra ficou no ontem.
Esperando a chegada de um amanhã
Esperançoso de tornar-se o hoje."

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Terêncio

Uma pseudo-leitura de:

O Eunuco

Ato V

Cena V

Entra a falar sozinho, o Velho, pai dos protagonistas.

VELHO – Assim, perto do campo, é que é maravilhoso de morar. Quando me farto da cidade, mudo logo de lugar. Ora, se ali não vejo Parmenão? Mas é ele mesmo. (Voltando-se a Parmenão) De quem estás à espera, Parmenão, aqui diante de nossa porta?

PARMENÃO – Sinto-me feliz por chegares em boa saúde, senhor.

VELHO – De quem é que estás a espera?

PARMENÃO – Estou perdido; minha língua paralisa de medo.

VELHO – Hein? Por que tremes? Está tudo bem? Diz-me!

PARMENÃO – (apavorado e hesitante)Senhor, primeiro queria que acreditasses no seguinte: tudo o que aconteceu não foi culpa minha.

VELHO – Mas o que foi?

PARMENÃO – Tens toda a razão de perguntar.(respira fundo e continua) Fédria, seu filho, comprou um eunuco para dar de presente.

VELHO – A quem?

PARMENÃO – A Taís.

VELHO –(arregala os olhos) Comprou?!(palmada na testa) Estou perdido! Por quanto?!

PARMENÃO – Por vinte minas.

VELHO – Estou arrumado.

PERMENÃO – Além disso, seu outro filho, Quérea, está apaixonado por uma tocadora de lira.

VELHO – O que?! Está apaixonado? Por acaso ele veio pra cidade? É uma desgraça atrás de outra.

PARMENÃO – Patrão, não olhes pra mim, ele não fez isso instigado por mim.

VELHO – Pára de falar de ti, patife...mas conta-me primeiro tudo, seja o que for.

PARMENÃO – Ele foi levado pra casa de Taís em vez do eunuco para que pudesse se aproximar da amada.

VELHO – Em vez do eunuco?

PARMENÃO – É verdade. Depois prenderam-no lá dentro como adúltero e amarram-no, para lhe fossem arrancados os meios.

VELHO – Fudeu! Ainda falta alguma desgraça ou perda que não tenhas me contado?

PARMENÃO – É só isso.

VELHO – (irritado com o escravo) E o que é que eu estou esperando pra entrar na casa de nossa vizinha cortesã?

PARMENÃO – Algo me diz que vai sobrar pra mim dessa história toda. Porque fui dar idéia ao menino. Agora é que me lasco de vez!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Pequenos Olhos de Tartaruga


Dá-me palavras meu âmago!
Não quero ficar sem escrever.
Essa angústia acaba com a minha alma
E, por dentro, corrói todo meu ser.

Não como homem, nem como máquina.
Mas um crescer jovem, infantil
Que todos temos dentro de nós.
E que se escangalha de tanto rir

Dessas palavras que nos percorrem.
Não sinto artificialidade.
Apesar de meio maquinado
Vôo com as cócegas para bem longe.

Por aqui venho apenas comunicar
Que a partir de hoje sou outro.
Aquele que ontem, já não era
Passa a anunciar aurora de falar.

Aquele que não dizia nada,
Hoje, é obrigado a catar letrinhas.
Como que num milharal a ventar
Buscando pequenas agulhinhas.

Que voam e flutuam sem ferir
Estourando em mil teclas.
Mostrando não só as letras
Mas também realidades imagéticas.

Invisíveis aos olhos do homem,
Palpáveis aos sentidos dos animais,
E por crianças alegremente absorvidas,
Cantadas com vigor e nostalgia

De um recém nascido que grita
Com pavor dos frios e das vidas.



Sem o menor pique de inspiração. Escrevo pra tentar mostrar que não abandonei o blog. Só espero que funcione. A todos um grande abraço cheio de saudades.

Na foto apenas um filhote aleatório, que a muito tinha encontrado.