quarta-feira, 23 de abril de 2008

Shaman e a Trilha dos Invertebrados

Era uma tarde de sábado. Um tempo razoável, desses em que sentimos um pouco de frio, mas não um frio tenebroso, apenas confortável. Segui-se um dia normal e tranquilo com alimentação corriqueira de aranhas que eram perturabadas por pessoas pertubadas.
Por volta de umas nove horas da noite, quando tédio atinge o seu auge, tres perturabados perturbadores concordam em vagar pelas ruas do bairro de Teresópolis, Albuquerque, que recentemente não tem recebido muitas visitas de seus jovens filhos pródigos, a não ser desse único indivíduo que leva sempre alguns de seus companheiros urbanos para o meio do bucolismo serrano.
Depois de todos devidamente prontos para a saída, foi-se buscar uma pobre vodka de aproximadamente uns quatro meses de idade, infelizmente já no seu final de vida, esperando o arremate final.
Saem de casa sob a luz de uma lua cálida e amarelada que brincava de fugir de nuvens sapecas num céu estrelado, num frio não tão confortável quanto o da tarde e com tudo(ou quase tudo) que precisariam em mãos: uma camera, uma garrafa de Coca, outra de vodka e um humor de dar inveja a palhaços circenses no melhor de seus dias. Com a aparição de figuras como o famoso Cap. Baltazar e seu macumbeiro companheiro Maboula, a rua pela qual andavam ganhou um nome curioso: a trilha dos invertebrados.
Reza a lenda, segundo o capitão, de que um tesouro foi lá enterrado por ele, e que nenhum homem jamais voltara de lá com suas devidas vértebras. Segundo ele subiram com o Estrume Veloz, seu navio, e que toda regra tem sua exceção, pois depois dele haver perdido uma perna, um olho, e cinco mares, não tinha perdido sua coluna.
Pouco depois de voltarem a realidade, os três se depararam com a figura de um cão aterrador. No momento, um frio na barriga toma todos, mas com o clarear da aproximação dessa figura, eles viram um velho companheiro de outras guerras: Shaman, um cão de rua que perambulava pelas redondezas, estava agora presente e fazendo a alegria do momento. Fotos. Muitas fotos. Felicidade jorrava pelas ventas de todos.
Segue-se o caminho. Depois de passarem por algumas bifurcações, deparam-se com uma placa em mais uma bifurcação que dizia "Rancho Raphael" para um lado, e para o outro lado " Estrada Rodézia". Concordaram em seguir o caminho para o Rancho onde seguiam agora uma estrada de terra batida, sem iluminação.
A escuridão e apenas a iluminação da lua na terra eram suficientes para deixar a sensação de liberadade fluir adrenalinissímamente por todas as partes do corpo. Os casarões antigos nas colinas marcavam a presença de pessoas endinheiradam mas aparentemente sem companhia.
Numa encruzilhada logo a frente, seguem-se agora quatro caminhos, tres pela estrada de terra, e um por uma trilha quase fechada, ou pelo menos ao que sevia naquela escuridão engolidora de homens. Tomaram o caminho com mato e sem luz, tão escuro quanto o anterior. Levaram um tempo para habituarem a visão aquela timbragem de luz, mas depois de uns dez minutos de caminhada com os olhos vidrados e atentos a qualquer tipo de movimento ou som, que viesse da frente, dos lados ou de traz.
Alguns latidos distantes se ouviam, mas nada que merecesse a devida atenção. Mas seguiram, cada um com um tipo de confabulação diferente sobre o que possivelmente lhes aguardaria a frente. Quem sabe que tipo de figura eles poderiam encontrar? Um louco varrido, um bebado, um doente ou talvez, mas muito talvez mesmo, um alienígena.
Shaman infelizmente, não cumpria seu papel de cão caçador, mas sim o seu papel como cão de rua, marcando seu território e buscando algum tipo de quitute saboroso que apetecesse seu paladar naquela hora da noite, simplismente despreocupado do que possivemente lhe poderia acontecer. Muito ao contrário de seus amigos que agora estavam quase gelados de pavor, ao ouvirem cada vez mais perto alguns latidos de cães rândomicos, porém notavelmente grandes.
Ao passarem pela placa onde se mostrava a subida do rancho, Shaman mostrou uma coragem atrevida, ao latir para um cachorro que latia de dentro de uma casa em frente ao rancho. Mas devido ao breu, não poderia se saber se os portões estavam abertos, fechados ou apenas enconstados.
Deram meia volta.
Assim, de vota a encruzilhada, tomaram o outro caminho que dava em algumas casas, todas devidamente guardadas com seus respectivos cães, grandes como titãs que aguardavam vingança contra os deuses do olimpo por seu aprisionamento.
No meio dessa estrada, um "pequeno" cão os segue, vindo de uma casa provavelmente e alcança Shaman e seus companheiros, não correndo,mas apenas trotanto. Ambos se farejam. Os tres dão meia volta com muita calma para não despertarem atenção do cachorro e continuam a andar, com uma calma trepidada pelos saltos dos corações assustados.
Shaman volta. Sozinho. Todos começam a ouvir latidos e uivos vindos de todos os lados, e os passos apertam, junto com os pulos que fígado dava ao ser atingido pelo coração que pulsava forte de susto.
Não se sabia o que poderia acontecer dentro de cinco, dez, ou até trinta segundos. Tudo que se ouvia eram cães latindo de todos os lados. Tudo que tinham em mãos eram garrafas e pedras .
Um pouco a frente, um boxer latia por cima de um muro sem grades, como um bebado em frenesi a gritar sem parar que quer continuar a beber sem que ninguém lhe possa impedir nem mesmo seus reflexos alterdos devido ao peso do álcool no sangue.
Os quatro passaram pelo cachorro rezando para todas as entidades para que o bicho não saltasse do muro.
Passaram por ele. Mas infelizmente Abyssus abyssum invocat(um mal chama por outro, ou nas minhas palavras, como sempre gosto de repetir, se pode piorar, vai piorar.)
Alguns metros a frente numa casa que parecia estar abandonada, haviam pelo menos cinco cachorros, grandes, espumantes, latindo freneticamente e rosnando como que se tivessem avistado pedaços enormes de comida.
Sem pestanejar, continuaram no mesmo ritmo de caminhada em que estavam, aumentando apenas a esperança de que nenhum dos cães os seguisse. Mas infelizmente a técnica divina falhou. Um deles veio atrás como quem caça a espreita, mas Shaman aparentemente foi mediar a situação. Todos agora prezavam a vida do bravo cachorro, mas tudo que podiam fazer era esperar que Shaman voltasse vivo da barganha.
Eis que surge na esquina a figura despreocupada de Shaman que parecia saber desde o começo que os tontos iriam se meter e alguma furada pelo caminho, e que na língua dos cachorros sábios de rua, comunicou aos outros cachorros esfomeados que os humanos burros haviam se perdido e que estavam bebados demais para encontrarem seu caminho de volta pra casa.
Depois disso segui-se o caminho de volta com muita calma e alívio, vendo todos sãos e salvos de todo tipo de mal que lhes pudesse ser trazido. Chegando em casa, cachorro se viu no luxo de pelo menos ganhar um agrado, mínimo que fosse pelo salvamento das figuras abobadas.
E assim, as figuras recusaram-no o requinte e batera-lhe com a porta nas ventas. E o cão, agora arrependido, volta com suas orelhas a abanar pela noite, e seu rabo a balançar de um lado para outro, esperando um lugar onde lhe possa ser agradecido seus feitos.


Na foto, uma das placas que encontramos no meio dos caminhos.

3 comentários:

Daniel Carvalho - Portfólio disse...

Cachorro joissimo. Soh nao ganhou brinde dessa vez por que da ultima comeu toda a carne e sumiu sem nunca mais aparecer, ateh od erradeiro dia da trilha.
Faltou deixar o clima mais amedrontador no rancho Raphael, ngm merece passar por la de noite que medo! E akele outro caminho que se seguia que ficamos com medo de ir? como deixar passar em branco se a noite era escura como o que!?

Pra terminar a frase mas bonita e ao mesmo tempo triste que pude pensar no feriado.
"O arrependimento eh o dilacerar eterno do coraçao"

Valeu apena o feriado, precisamos repetir trilhas povoadas de ets fantasmas, bebados, caes amigos e inimigos e muita imaginaçao.

Esse é o caminho dos invertebrados.

Daniel Carvalho - Portfólio disse...

foi de longe uma das coisas mais legais q eu fiz em teresopolis, seria a mais se tivessemos seguido pela estrada ao lado da do rancho raphael. Da proxima vez levamos um rifle q ta garantido.

Carolina disse...

"Volta o cão arrependido, com suas orelhas tão fartas, com seu osso roído e com o rabo entre as patas."

O verso é repetido 44 vezes! \o/

Ok, li (esse textão) sem meus olhos e agora estou completamente cega. ¬¬