quarta-feira, 28 de maio de 2008

E lá estava a casa. Casa vinte e oito na Rua dos Alferes. Era uma casa aparentemente simples, sempre muito visitada, cheia de gente saindo e entrando a toda hora e minuto. Desde menino passava por ali e me perguntava o que era que tanto as pessoas faziam por ali. Minha mãe e minha vó sempre me diziam, "Isso não é pro teu bico, moleque! Vai jogar bola com os teus amigos que é melhor..." ou algo assim, pra distanciar meus pensamentos, como um cachorro hipnotizado por um pedaço carne a sacudir pelas ventas e a voar rua a fora. E lá ia eu distraído a quicar pelas casas em busca de meus companheiros.

Mas, como a curiosidade é algo intrísceco a alma humana, toda vez que passava por aquela casa, ficava atordoado. Como que por um perfume, que me seduzisse, me empurrasse para suas proximidades e ficasse a adimirar, apenas por alguns mimutos, até achar outra coisa pra poder direcionar minhas idéias.

Lá, morava um sujeito amagrelado, de uns cinquenta anos, negro e alto, de barba amarelada, devido ao caximbo e ao charuto que fumava na janela. Olhos brancos, como nuvens em dias de claros raiares de sol, que vigiavam as ruas na espera de seus "pacientes". Seu Jerônimo era o nome do sujeito. Tinha um urubu guardado numa gaiola que ficava perto da janela que gritava sempre que podia em alto e bom som quando passava alguém que lhe era conhecido o cheiro, ou talvez a aparência.

Pois então, hoje, depois de burro velho, tomei coragem de adentrar naquela casa que pra mim sempre fora tão estranha pra mim. Mas o que me segurava agora? Nada. Apenas minhas pernas, e minha vontade que me prendiam frente aquela porta velha de madeira, com dobradiças já enferujadas pelo tempo. Madeira cheirosa, velha, daquelas que pareci ter acabado de sair da marcenaria do seu Ulisses, também das vizinhanças.

Ao ficar contemplando aquela maravilha do tempo, repentinamente, como que num tiro de carabina pronta pra me acertar, Seu Jerônimo me abre a porta e fitar-me a meio palmo das fuças.

Um comentário:

Carolina disse...

"Lá, morava um sujeito amagrelado, de uns cinqüenta anos, negro e alto, de barba amarelada, devido ao caximbo e ao charuto que fumava na janela."
Preto velho!

Vem cá, e o seu Ulisses, hein, é gatinho?
Avisa que o nome dele é LINDO!